Intro
Quase ninguém dança sóbrio, a menos que seja louco.
H.P. Lovecraft
Antes
Minhas mãos tremiam, não era medo ainda, era mais o frio que percorria meus dedos naquela manhã acinzentada. As crianças brincando com o vapor que saia de suas bocas como pequenas mexas de fumaça.
As flores que estavam aos meus pés se moviam levadas por um pequeno ciclone que as levantava pelo ar e as fazia fugir de meus passos. O vento chegou até a levantar o cadarço de meu sapato, mas por pouco tempo, e em seguida as flores caíram sobre uma pequena poça d’água. Uma água muito suja, mas que de tão escura, refletia com precisão o sapato que vestia meus pés. Vestia, não fugia. Apenas o ciclone fugia correndo ao longe, levando outras flores murchas para outra dimensão, outra pequena poça d’água “com seu mundo e suas histórias”, pensei.
Cada poça d’água tinha uma história diferente. A cor da água, sua forma, sua profundidade, assim como os pequenos insetos que povoavam suas praias. Alheios ao que existia de infinito a sua volta.
Vi ao longe um cachorro lamber uma daquelas poças. Só aquela. A que molhava meu cadarço talvez nunca tenha sido lambida por um cachorro, e aquela poça lá de longe, perturbada por aquele ser gigantesco e estranho aos olhos de seus moradores microscópicos, não vai molhar meu cadarço, pois não passarei por lá.
Minha mão estava quase dormente pelo frio, mas mesmo assim peguei com firmeza meu pequeno bloco de papel com capa de couro preto. Em seguida puxei minha caneta, e ao abrir o bloco de papel escrevi:
“Quem sabe um dia eu possa aprender.
Quando as flores murcharem
e o vento chamar
pelo tempo perdido.
Aprender que algo existe dentro de uma bolha de sabão.
Quem sabe um dia descobrirão
a beleza das flores murchando.”
Isso aconteceu um dia antes da chegada dela…
Kassogtha…
Rodapé
Você chegou ao fim da curta quinta edição de GBOZ.
Edição, capa e suspiro por Gabriel Boz.
Fragmentos de texto: Gabriel Boz
Sobre a imagem de capa. É melhor deixar ela em paz.
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