Apresentação
Essa é a primeira publicação do GBOZ, a versão beta das próximas que virão.
Temos 3 grandes objetivos. Levar até você histórias de Ficção Científica e Fantasia inovadoras que possam ser acessadas de forma fácil e direta para uma leitura ágil, prática e impactante.
Cada edição terá 1, 2 ou até 3 contos, uma rápida resenha e algumas notas de rodapé.
O formato para leitura vai privilegiar o modelo responsivo, onde computadores e celulares serão o veículo principal. Nada de baixar arquivos estranhos ou pdf’s com letras miúdas. Leia aqui e agora, de onde estiver, a qualquer momento.
Sua participação é muito importante e deixe seus comentários ao final da leitura.
Golem Binário
GOLEM BINÁRIO by Gabriel Boz
Eloi olhou para o lado, com um toque acendeu o celular. Eram duas da madrugada.
– Você sabe que horas são? – Perguntou para Mel.
– Ainda está cedo. Vamos dar uma volta?
Saíram pela porta dos fundos dentro de um beco com pichações fosforescentes. Um quarteirão depois e estavam na borda da Avenida Mem de Sá passando pelo Aqueduto. Mais a frente, um boteco 24h estava aberta. Dentro uma mesa de sinuca eletrônica piscava com bolas holográficas e nenhum jogador. Mel pegou o taco cromado e mirou a bola branca iluminada em uma bola vermelha. Jogaram por 10 minutos. Mel encaçapou todas, três vezes seguidas. Eloi ria.
– Estou ficando com sono. Você não precisa se recarregar? – Disse Eloi antes de um bocejo.
A guarda-costas modelo Mel-Go 300 franziu a testa apertando os lábios.
– Não me lembre.
Uma Lilithec entrou pela porta, rosto perfeito, longos cabelos morenos, pele dourada, olhos verdes e luminosos. Brincos em forma de corrente brilhavam, conectados ao seu chip neural por detrás da nuca. Indiferente como só uma robótica saberia ser.
Mel tremelicou e ficou estática. Levantou a cabeça lentamente, os olhos vermelhos com lasers escaneando os códigos de identificação do pulso em movimento da Lilithec. Algo estava errado.
Eloi só teve tempo de escutar o leve tilintar da lâmina surgindo e raspando a estrutura de fibra de carbono do braço da Lilithec antes de ser empurrado por Mel. O espeto que saiu do cotovelo de robótica transpassou o ombro de Mel um segundo depois. Ficaram presas, rodando em uma dança mortal. Mel conseguiu empurrar a Lilithec, desconectando-se. Enfiou a mão no silicone epidérmico da coxa, rasgando a lateral da perna. A estrutura de fibra de carbono ficou a mostra, assim como um buraco do tamanho de sua mão. Enfiou seus dedos para pegar sua arma eletromagnética. A Lilithec tinha acabado de levantar quando foi alvejada. A explosão ecoou em todo o quarteirão apagando luzes, neons e conexões. Bolas de sinuca holográficas se apagaram.
Eloi estava caído, o rosto quase encostado no meio fio, atordoado. Havia corrido e se jogado pela porta. Levantou e viu Mel paralisada, imóvel pelo choque de energia. A Lilithec desativada e caída parecia uma boneca de pano.
– Foi por pouco – Eloi falou para ar, sabendo que Mel não mais o escutava.
Ela permanecia imóvel, uma estátua de pedra paralisada com o braço esticado e a arma em punho. Não demorou nem 3 minutos e um drone de transporte dos Protetores pousou lentamente na calçada.
Dois Protetores e uma robótica ruiva modelo Avan 450, todos em seus trajes pretos, saíram em direção a Mel. Eloi olhava para seu rosto petrificado. Por um breve lampejo, lembrou das estátuas de pedra da sua primeira morada em Ugarit
– Vamos leva-la agora.
Eloi deu um beijo em seu rosto.
– Obrigado.
A Ruiva o olhava, um leve sorriso.
– Sou sua nova guarda-costas, me chamo Avan.
Eloi caminhava para longe do boteco, antes que a polícia chegasse, a robótica o seguindo. Ligou seu cigarro. Pessoas começavam a chegar no local do pulso eletromagnético. Cigarros eletrônicos brilhavam por entre fumaças brancas pelas ruas do Lavradio. Começou a chover.
A robótica o olhou com pálpebras cerradas e um sorriso.
– O que acha de uma massagem?
Voltaram para o apartamento.
Mel voava baixo por prédios iluminados.
Um dos protetores conectou um cabo de acesso na nuca da robótica. Acessou seus dados.
– Dados da Mel-Go 300 descarregados. Era uma Lilithec modificada com lâminas escondidas. Ele não sabia, estava distraído, mas conseguiu correr e se jogar pela porta. Está ficando mais difícil, são muitas modificações se acumulando, muita complexidade. Me pergunto por quanto tempo ainda o teremos.
O outro Protetor, pilotando o Drone, mantinha o olhar fixo à frente.
– Ele é nosso último Elohim transfigurado em carne. Ele nos salva a sete mil anos. Mantenha a sua fé.
O protetor se silenciou. Olhou para Mel. Leu o ultimo pensamento que passou por seu cérebro artificial: “Meu novo Criador não vai morrer hoje.”
Gotas caiam e criavam caminhos tortos pelo vidro do transporte. O céu piscou em um clarão verde.
Eloi sentiu quando o transporte de Mel foi alvejado por um raio fino e contínuo que cortou a lataria ao meio. Mel caiu do céu por uma das metades abertas, os protetores também caíram, em um silêncio ritualístico emoldurados por gotas de chuva brilhantes. Eloi fechou os olhos. A massagem era muito boa.
A oitava praga chegou naquele dia 14 de outubro de 2076, como os Protetores haviam previsto. Eram pequenos robóticos interdimensionais que mais pareciam um enxame de gafanhotos, e pelo tamanho diminuto, conseguiram cruzar o tecido entre Universos. De seus narizes cromados, emitiam finos feixes de energia contínua que atravessavam em nível molecular tudo que tocavam. O planeta inteiro foi fatiado em 30 minutos, mas Eloi ainda estava lá.
14 de Outubro renasceu. Mel fazia café da manhã para Eloi.
– Senti o deja-vu, aconteceu novamente. O que acontece comigo, você nunca me conta?
– Porque nunca acontece. Eu refaço a criação, com algumas melhorias. E você sempre aparece aqui, ao meu lado, cada vez melhor. – Finalizou sorrindo.
Mel piscou os olhos. Não precisava, mas a fazia parecer mais humana. As vezes pensava se não era. Se perguntava se Ele também a recriava, ou se ela nunca deixava de existir, como uma estátua de pedra sonhando estar viva.
Eloi pegou o prato com ovos e bacon e os devorou. O celular tocou, era um Protetor.
– Vivemos por Sua glória e benção, amado Elohim. Por questões de segurança gostaríamos de realocar vocês para Orlando, o vôo sai em 3 horas. A nona praga ainda não foi identificada, mas o manteremos informado e protegido como sempre.
Eloi sorriu. Mel ia preparar um banho para eles. E pensar que a outrora pele de barro hoje era tão perfeitamente pura e lisa como a pele que cobria a carne de suas criações. Fechou os olhos. Linhas continuas de energia ecoavam por sua mente conectadas e vibrando em cordas elásticas onde átomos pulavam e reverberavam como trovões saindo da boca de um gigantesco leão alado. Dessa vez ele voltou na criação e mudou o tecido interdimensional tornando-o mais rígido. Aquela praga dos invasores não conseguiria mais atravessar para seu mundo.
Do outro lado do planeta, uma nova Lilithec era modificada por um agente robótico invasor. Dessa vez, ao invés de lâminas retráteis, ele estava adaptando em seu núcleo de energia, uma ogiva de plutônio de uma antiga bomba norte coreana portátil. Ele só não sabia como iria leva-la até a Disney.
Resenha
Resenhando a lista de livros que nunca li.
Quando pensei em incluir esse tópico na revista eletrônica, comecei a pensar em qual livro de Ficção Cientifica e Fantasia iria resenhar primeiro. Foi quando peguei a seguinte lista de 10 “Livros para ler” que montei no meu Bullet Journal lá por volta de 2018.
Wonderbook | The illustrated guide to creating imaginative fiction – Jeff Vandermeer
Mulheres Perigosas – G.R.R. Martin e Gardner Dozois.
Count Zero – William Gibson
Monalisa Overdrive – William Gibson
Todos os Pássaros no Céu – Charlie Jane Anders
O Nome do Vento – Patrick Rothfuss
Coisas Frágeis – Neil Gaiman
O Problema dos Três Corpos – Cixin Liu
1Q84 – Haruki Murakami
Estação Perdido – China Mieville
Me pergunte quantos livros dessa lista eu li, vai, pergunta? Mesmo sabendo que o título dessa resenha é “Resenhando a lista de livros que nunca li”. Eu sei que não posso escutar a sua pergunta, mas vamos lá, me pergunte, pergunte para o ar, pergunta para as partículas de poeira em suspensão: “BOZ, quantos livros dessa lista você leu?” Quero sentir minha orelha vermelha, rachando em fogo e vergonha.
Nenhum.
Não que eu tenha parado de ler, pelo contrário, leio bastante, mas pelo menos nos últimos 3 anos, só li livros de outros estilos. Que estilo? Bem, Já comentei que até o ano passado eu trabalhava como Executivo de Recursos Humanos? Pois é. Liderança, Coaching, Hábitos, empreendedorismo, estoicismo, meditação, comportamento, todo esse espectro de literatura que muitas vezes cai no guarda chuva “Auto Ajuda”. A última leitura séria de Fantasia que fiz foi maratonar todos os livros de A Guerra dos Tronos até A Dança dos Dragões. Mas isso foi lá por volta de 2013. Ficção Científica então, não lembro o último que li todo. Comecei a ler Duna e Androides sonham com ovelhas elétricas?, mas nem passei do primeiro capítulo. Já fiz muita análise do porquê disso, mas essa Resenha dos livros que nunca li não será o lugar onde irei me debruçar sobre as conclusões que tirei. Digamos que tudo começou em 1988, eu então com 13 anos, lendo as 886 páginas de Campo de Batalha: Terra do L. Ron Hubbard, escritor e fundador da Igreja da Cientologia. Deve ter alguma coisa a ver com isso.
Então, concluí que não tinha nenhum livro dentro da temática e estilo do GBOZ para resenhar. Não ia resenhar as Meditações de Marco Aurélio, ou Ferramentas dos Titãs do Tim Ferris, ou pior, Manhã Milagrosa de Hal Elrod. Não são livros ruins, também querem te levar para um novo lugar, mas não te levam além da atmosfera, ou além da Galáxia. Também querem que você seja alguém melhor, diferente, mas não o tipo de diferente que envolva próteses cibernéticas, orelhas pontudas ou pele verde.
No fundo, talvez melhor do que tentar escapar para dentro do próprio auto-conhecimento, seja escapar para fora, para o espaço desconhecido.
E uma nova pergunta surge no ar. Qual dos livros dessa lista eu vou começar a ler primeira para poder resenhar? Talvez eu deva começar pelo final, já que andei tanto tempo perdido.
Rodapé
Obrigado por ter lido essa edição inaugural do GBOZ.
Edição, capa, conto e resenha por Gabriel Boz.
Sobre a imagem de capa. Inspirada no conto dessa edição, uma divindade que pinta e repinta o Universo observa sua criação. Mas algo que não foi criado por Ele também busca a existência, e talvez, a liberdade.
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